segunda-feira, 22 de outubro de 2007

David Fonseca no Gamobar Art Stage

A Peugeot lançou no mercado o seu mais recente rebento, com a designação comercial "308". Numa acção de marketing bem conseguida, conseguiu juntar, no Gamobar Art Stage, perto de 1000 pessoas, na passada sexta-feira, 19 de Outubro. É certo que, para isso, contou com a presença de David Fonseca, num concerto que serviu para apresentar, entre outros, temas do novo álbum "Dreams in colour".

Primeiro ponto: não sou fã de David Fonseca, mas consegui bilhetes para o concerto (obrigado, Rádio Nova) e fui. Segundo ponto: continuo a não ser fã de David Fonseca, mas gostei de ver e ouvir o concerto, que teve uma qualidade de som de fazer inveja a muitos espaços dedicados...

David Fonseca no Gamobar Art StagePor volta das 22h30, David Fonseca e seus pares subiram a um palco montado naquilo que funciona como oficina em dias de semana... O assobio do momento, da música "Superstars" (ver vídeo), serviu de arranque para um espectáculo que, para além do áudio, teve momentos visuais muito bons. Interessante, e bem conseguida, a ideia de colocar câmaras de vigilância direccionadas para os 6 músicos, sendo o registo projectado para um ecrã, com a visualização simultânea das expressões e empenho de todos.

Do novo álbum foram também apresentadas músicas como "Kiss me, oh kiss me" e "4th chance". Os álbuns "Our hearts will beat as one" (2005) e "Sing me something new" (2003) não foram esquecidos, com músicas como "Who are U?", "Hold still", "Adeus, não afastes os teus olhos dos meus", "Someone that cannot love" (ver vídeo) e "The 80's" (ver vídeo) a apelarem à cantoria colectiva e dança controlada, potenciadas por uma repetida sonoridade de 'palminhas' em grande parte dos temas.

No 'encore', a agradável surpresa de uma deliciosa versão do original de Brian Ferry, "Let´s stick together" e a inevitável repetição da música "Superstars" ajudaram o público presente a abandonar o espaço com um sorriso nos lábios, de onde saía o assobio mais conhecido do momento (não é que é viciante, mesmo?...).

Ah, sim, e o Peugeot 308, a razão de tudo isto? Não vi, não quis ver. Aliás, vê-lo, só mesmo de fora do recinto... Estava com sede e tive que a saciar noutro local. Esta apresentação no Gamobar Art Stage não deu direito a isso.

Hugo Canossa - "Apreciações" #007

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Clima afectado

Dantes, dizíamos e ouvíamos dizer que este ou aquele estavam afectados pelo clima. Será que podemos, agora, dizer que o clima está afectado (por nós?)?

Encontrava-se este ou aquele afectado pelo clima quando demonstrava alteração moral ou física em relação ao seu, mais conhecido, padrão de normalidade comportamental. Actualmente, o clima revela, à escala planetária, uma alteração em relação ao padrão meteorológico a que nos tinha habituado.

Se a este ou àquele, pelas suas atitudes invulgares ou pela sua forma ou aspecto transtornados, não se pode, na maioria das vezes, imputar responsabilidade ao clima (ainda é bastante português e, se calhar, também humano, ouvir dizer ou dizer expressões como: “Este calor dá cabo de mim, nem consigo respirar"; "Este frio causa-me frieiras"; "Com este vento fico maluco"; "Com esta humidade o meu joelho mata-me"; "A maresia causa-me alergia"; "Este tempo é bom é para as gripes, ora está calor ou a chover e está sempre um vento do caraças.”). No entanto, relativamente à segunda parte da dialéctica supra iniciada, não podemos, de ânimo leve, desconsiderar a relação causa/efeito. Ou seja, quanto às incaracterísticas climáticas, podemos, facilmente, apontar alguns causadores.

Segundo alguns estudiosos do assunto defendiam, há alguns anos atrás, as variações climáticas podiam-se padronizar ciclicamente. Cada ciclo corresponderia a cerca da 50/60 anos, durante o qual as "estações do ano" estariam mais propensas a Invernos mais rigorosos e Verões menos quentes e vice-versa. Estes períodos sucediam-se alternadamente, sendo que estaríamos, neste momento, a atravessar um ciclo em que os Invernos seriam menos rigorosos e os Verões mais fortes.

Em Portugal, o último Inverno não foi muito frio apesar de ter chovido bastante. A passada Primavera foi essencialmente chuvosa e o Verão continua fraco e com pluviosidade não rara. Tem-se observado, ainda, de há várias semanas a esta altura, um constante vento médio, forte ou muito forte. Um notável meteorologista português, Anthímio de Azevedo, referiu a evolução constante e não periodicizável (será que esta palavra existe?) do clima. Reflexos de uma mutação permanente do planeta. O tempo óptimo teria ocorrido há cerca de 1800 anos atrás, por volta do II ou III século d.C.. Nessa altura, a Natureza estaria em quase perfeito equilíbrio, regulada por posições de natural simbiose entre equinócio e solstício.

Desde então, muito mudou. O planeta continua a viver, a evoluir, a mudar. Os próprios movimentos planetários e astrais não são matematicamente rigorosos nem britanicamente pontuais e muito menos facilmente calendarizáveis com precisão. A cronometrização científica em segundos, minutos e horas é falível. A calendarização em dias, semanas, meses e anos é ainda mais infiel. O que representará num milénio uma divergência de poucos segundos em cada dia em relação à posição dos astros? Como diria um antigo primeiro-ministro português, "é fazer as contas". A natureza não tem de ser pontual nem os astros necessitam de relógio. As coisas são o que são e acontece-lhes o que tiver de lhes acontecer independentemente de o tempo ser este ou aquele. Ou não?

A necessidade de contabilização e compartimentação do tempo é uma característica inalienável à Civilização Humana mas disso falaremos noutra altura.

Há ainda, a dar o seu contributo para a instabilidade do Clima, a mão Humana. A pesada e violenta manápula do Homem. Sem querer parecer fundamentalista ambiental, devo dizer, de garganta devidamente pigarreada, que o Homem é o principal causador do clima afectado em que vivemos.

Façamos a definição de clima como sendo o reflexo meteorológico e enérgico do planeta. A poluição causada pela actividade humana no planeta afecta, de forma directa e indirecta, o clima. O alargamento do buraco na camada de ozono, a desflorestação selvagem, o constante degelo dos glaciares, são, entre outros, os feitos do Homem para com a Terra. Como é que o clima não há-de estar afectado? Vai continuar afectado e não se preveem melhorias tão cedo.

Se a infernal máquina poluidora humana conseguisse apenas manter os níveis de poluição registadas em 2006, isto é, não os aumentar (como é provável que aconteça este ano e continue a acontecer durante muitos mais) durante uma série de anos, daqui para diante, só veríamos resultados positivos dessa atitude daqui a três ou quatro décadas.

O clima está afectado e vai continuar a estar enquanto o Homem continuar a olhar para o seu umbigo e ali ver uma espécie de buraco negro onde se poderá refugiar quando nada mais restar do seu habitat.

Segue-se a era dos mutantes e a sobrevivência será o lema. Já faltou mais.

Miguel dos Santos - "III Milénio" #001