sexta-feira, 7 de março de 2008

ASAE’s precisam-se!!!

Pois é... Se esperavam que este espaço de maldizer iria atacar com desdém a recém-famosa ASAE, desenganem-se! Aliás, e sem qualquer ironia, temo informar que aqui só vão encontrar argumentos que a defende, promove e até idolatra, e porquê? Expliquemos então...

A Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica foi criada através da extinta IGAE (Inspecção-Geral das Actividades Económicas), com mais duas ou três instituições que abrangiam sectores como a segurança alimentar ou os direitos de autor. No fundo, juntou num só organismo uma série de entidades inspectoras ou fiscalizadoras que, até à data da sua criação, existiriam apenas para que aqueles que pertenciam aos sectores em que estas actuavam não pensassem que seria uma balda. Não que não fosse, mas era só para que não pensassem que...

O certo é que, desde a criação da ASAE, estes sectores nunca mais foram os mesmos, em consequência da sua famigerada acção. Desde restaurantes a docas de pesca, de hipermercados a feiras, passando por recintos de espectáculos, praticamente ninguém escapa à sua actuação.

É precisamente aqui que se inicia o meu fascínio por estes senhores. É que, segundo transparece através dos media, com a mesma facilidade com que fecham a “Tasca do Zé Xunga” por ainda usar a colher de pau que, por sinal, já está na família há três gerações, fecham um daqueles grandes hipermercados por falta de condições de armazenamento de produtos alimentares. E a mensagem que passa é que para estes senhores o Zé Xunga, ou o conselho de administração do “Mega” hipermercado, são exactamente a mesma coisa: infractores!

E as feiras? A forma como as cercam e entram por lá dentro limpando tudo o que são piratarias, falsificações e produtos de furtos? Poder-se-á questionar a força e a forma de actuação perante simples feirantes, mas para mim só reforça a admiração que lhes venho a desenvolver. Pois imagine-se que estas actuações seriam em menor número e com maior discrição... O resultado seria que, no meio de milhares de ilegalidades e centenas de infractores, lá apanhariam um ou outro, ficando os restantes com a sensação de que esses foram uns desgraçados que tiveram azar. Mais uma vez, a importância da mensagem e a sua importância como efeito dissuasor seria esquecida.

A verdade é que trouxeram mais que segurança alimentar e económica a este país. No fundo, devolveram um pouco de esperança a um povo que praticamente já não acredita na justiça e que aceita a impunidade de prevaricadores como se já não houvesse nada a fazer. Em nome da lei, foi-nos apresentada aquilo que eu acredito ser uma fórmula para a tal revolução institucional e até social, de que necessitamos, como pão para a boca: “ É dar-lhes, sem dó nem piedade!”, pois o pior que pode acontecer será que, para sobreviver num “pós-ASAE”, será necessário adaptar-se e, para isso, terão que se modernizar, terão de se informar, ou melhor, de se formar, terão de melhorar a qualidade dos produtos e serviços, terão de elevar os seus padrões. Pergunto: será assim tão mau? Não é isso mesmo que queremos?

Sei que os tribunais estão já a começar a entupir, ainda mais, devido ao número de processos criados nestes últimos dois ou três anos. No entanto, alerto para que não se caia no erro de desvalorizar estas acções por causa disso. Devemos, pelo contrário, deixar contaminar todas as restantes entidades que regulam a vida deste país por esta forma de estar.

Por fim, não posso deixar de comentar a valente “charutada” protagonizada pelo presidente da ASAE num casino de Lisboa, dizendo que tal atitude me custou muito a digerir mas, ao mesmo tempo, serve para lembrar que a perfeição é inatingível. Mas podemos tocá-la, se tentarmos sempre atingi-la. Bom, espero também que tenha sido a excepção que confirma a regra.

Nuno Gomes - "Estranha Mente" #004