segunda-feira, 2 de junho de 2008

Not My Space

Há cultos que se criam que, muitas vezes, escapam à nossa capacidade de percepção. Não, não vou escrever sobre o Tony Carreira. Segundo me explicaram, não tem voz, mas "é uma excelente figura". Para o filho Mickael é que ainda aguardo uma explicação minimamente plausível...

Vou escrever, sim, sobre o My Space. Criada em 2004, esta rede social tornou-se um espelho da cultura pop, promovendo novas bandas e respectivas músicas, produtores de vídeo e artistas do mundo web. Utilizada também por amigos que procuram outros amigos, colegas de estudo e famílias que pretendem manter-se em contacto, a possibilidade de carregar e partilhar fotos, comunicar instantaneamente ou através de correio electrónico, escrever 'blogs' e comentários, visualizar e partilhar vídeos, de uma forma absolutamente gratuita (a web 2.0 no seu esplendor), resultou num sucesso massivo, com milhões de utilizadores em todo o mundo (o último número fala de 110 milhões...).

É exactamente este sucesso massivo que foge à minha percepção... Não coloco em causa a enorme vantagem de se conhecer artistas de uma forma 'autónoma', sem dependência das questionáveis vontades de A&R de editoras e correntes de moda musicais. Mas uma visita cuidada e atenta à(s) página(s) disponibilizada(s) pelo My Space permite perceber que, para além da vontade de muitos utilizadores consultarem os 'espaços' dos seus artistas preferidos e ter o primeiro contacto com muitos outros, uma grande fatia de utilizadores utiliza os 'espaços' dos outros para promover os seus 'espaços'. Confuso? Bastante...

Aquando das minhas (raras) visitas aos 'espaços' de algumas bandas, constato que os comentários de alguns visitantes mais não são do que a promoção textual ou gráfica de eventos desses visitantes, o que, extrapolando para espaços físicos, representa uma visita a minha casa, não para apreciar o meu conteúdo, mas sim para colar cartazes nas minhas paredes, no meu chão e tecto ou deixarem lá 'flyers'. Pouco correcto? Talvez...

Na passada terça-feira, 27 de Maio, abriu oficialmente a página do My Space em Portugal. Mantêm-se os conteúdos disponibilizados pela versão internacional, mas agora em língua portuguesa. O director de entretenimento e vídeo na Europa, James Fabricant, explica que esta "é a oportunidade de mostrar os conteúdos mais relevantes para o país". Eu arrisco dizer que encontraram em Portugal um país que reflecte de uma forma quase fiel a sua estrutura de funcionamento:
1) uma arquitectura absolutamente reprovável, que desrespeita todas as normas de uma boa e correcta estrutura de informação, fazendo da navegação da(s) página(s) um experiência tortuosa, demorada e nada "user-friendly";
2) uma cultura de partilha onde ninguém ouve ninguém, apenas quer é ser ouvido;
3) um sentimento de necessidade de existência, qual neo-parolismo, só para dizer que "eu tenho my space, eu estou actual"...

Not My SpaceUma das questões que mais vezes me colocam (como 'frontman' do portal brakebit.org e promotor de alguns projectos nele inseridos) é "Tens My Space?". A minha resposta é um taxativo "Não!". Dependendo do tempo que a pessoa tem para me escutar, apresento e fundamento alguns dos argumentos que me levam a optar pela não-criação de um perfil e a não-presença nesta rede social de inusitado sucesso.

Muito tempo antes de escrever este artigo, confrontei a minha opinião com portadores de perfil no My Space e acérrimos defensores do conceito desta rede social. Poucos concorda(ra)m comigo. Manifestei-lhes a minha disponibilidade para visitar páginas que eles considerassem bons e muito bons exemplos, no sentido de reapreciar e reconsiderar a minha opinião. Ainda hoje aguardo... Será que não se conhecem essas páginas? Ou não existem mesmo??

Sei que arrisco más reacções a este artigo. Não me convém, portanto, deixar de reforçar que aplaudo o empreendorismo da maior parte dos artistas que optam pela procura do sucesso com um custo pouco maior que zero. Mas, definitivamente, "this is not my space"...

Hugo Canossa - "Apreciações" #010

1 comentário:

Anónimo disse...

Nem mais! Fiquei surpreendido por encontrar uma voz que reflecte no essencial aquilo que penso (gostei particularmente do 1º parágrafo - just kidding...) sobre redes sociais deste tipo. Elas reflectem, como disseste e bem, a necessidade de as pessoas se fazerem ouvir, que na maior parte das vezes não é acompanhada pela capacidade de ouvir os outros... Consequência directa da valorização da quantidade (amigos, comments, etc.) vs. qualidade e, porque não, da forma vs. conteúdo... São os tempos neo-barrocos em que vivemos...